segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Ninguém quer ser PT

Com a rejeição batendo recordes, o PT lançará o menor número de candidatos a prefeito e a vereador em duas décadas. Não consegue fazer alianças, procura esconder a estrela nas campanhas e deverá perder o comando das principais cidades que administra


Ao traçarem as projeções para as próximas eleições, líderes do Partido dos Trabalhadores vislumbram um cenário de hecatombe. A equação “impeachment, corrupção e crise econômica” compromete o futuro do partido. O PT passou de queridinho para rejeitado em quatro anos. Os apoios do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou da sucessora Dilma Rousseff não são mais disputados. Pelo contrário. Eles se tornaram espécies de âncoras que levaram a uma diáspora petista. Cerca de um quarto dos 632 prefeitos deixaram o partido. Procuram, como Luciano Cartaxo em João Pessoa, desvencilhar-se da mácula da corrupção. Sabem a dificuldade que é convencer eleitores ou outros partidos a apoiarem um petista. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, por exemplo, perdeu metade das legendas que ajudaram a elegê-lo e amarga 9% nas pesquisas, com 76% de reprovação. Ele até tentou esconder os símbolos petistas em uma estrategia que virou moda dentro da legenda. A estrela vermelha ostentada em outros tempos desapareceu dos materiais de campanha de outras cidades consideradas berço do partido, como São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema. Pudera. A associação à imagem petista tem prejudicado candidatos até em cidades onde tradicionalmente o PT possui boas votações. Luizianne Lins com 18% das intenções de voto em Fortaleza e Reginaldo Lopes com 3% em Belo Horizonte sabem bem disto. Patinam para conseguir votos.
A crise do PT se evidencia na disputa pelas prefeituras das 26 capitais do País. Desde 2004, o número só cai. Passaram de nove para quatro na disputa de 2012 e foram a três com a saída do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, para o PSD em 2015. “Não queremos e não vamos perder mais nenhum minuto sequer com explicações sobre erros que outras lideranças tenham, eventualmente, cometido”, disse Cartaxo ao abandonar a legenda. “O partido não pode ser um empecilho, um dificultador, para o projeto que está desenvolvendo com tanto êxito na nossa cidade. Deveria ser o oposto, um elemento motivador, agregador e incentivador”, complementou. A decisão se mostrou politicamente acertada. Fora do partido, ele lidera com folga o pleito à reeleição. Venceria no primeiro turno com 52%, segundo o Instituto Ibope. E, para desespero da direção do PT, cerca de outros 150 prefeitos também bateram em retirada. Enfrentarão antigos correligionários nas urnas.



Ao depender das pesquisas de intenção de votos, aqueles que ficaram no partido enfrentam uma perspectiva sombria. O PT perderá duas das três capitais que administra. Deve permanecer apenas à frente de Rio Branco. Lá Marcus Alexandre aparece como franco favorito à reeleição. Em Goiânia, a candidatura da deputada estadual Adriana Accorsi, apoiada pelo prefeito Paulo Garcia, não deslancha. Ela aparece em quarto lugar com 8% e enfrenta a segunda maior rejeição: 18% dos eleitores dizem que não votariam nela de jeito nenhum. Um cenário tão ruim quanto o enfrentado por Fernando Haddad na capital paulista. O petista divide o terceiro lugar com João Doria (PSDB) e Luiza Erundina (PSOL) e aparece um dígito atrás de Marta Suplicy (PMDB) e do líder Celso Russomanno (PRB). Mais de sete em cada dez paulistanos são críticos a sua administração e 52% se negam a votar nele. O desespero de Haddad se tornou tamanho que ele tenta vender uma gestão inexistente para a população. Recorre a números inventados para maquiar o caos instaurado na saúde e na educação pública durante seu governo. Em um debate, chegou a falar que a maior parte dos paulistanos aprova a saúde pública oferecida pelo município. Nada disto. Levantamentos mostram que, se a população tivesse de avaliá-lo neste quesito, Haddad repetiria de ano. Teria uma nota vermelha de 4,5. Está abaixo do antecessor e atual ministro das Comunicações, Gilberto Kassab (PSD).



“O desespero de Haddad se tornou tamanho que ele tenta vender uma gestão inexistente.
Recorre a números inventados para maquiar o caos instaurado na saúde e na educação”

Para fugir da insatisfação popular com o PT, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, tentou aderir a uma nova moda entre os candidatos do partido. Escondeu símbolos do partido na campanha. Não quer ser associado aos escândalos de corrupção, à crise econômica ou ao impeachment. A estrela petista, empunhada com orgulho em outros tempos, foi reduzida a tamanhos praticamente invisíveis nos primeiros panfletos. A decisão criou uma discussão interna. Lideranças não aceitaram a estratégia e o convenceram a aumentar as menções ao PT. Parecem não reconhecer as consequências do antipetismo. Até na única capital em que aparece como favorito a voltar ao poder, o petista sofre os efeitos da imagem arranhada da legenda. Líder nas intenções de voto, o ex-prefeito de Recife João Paulo enfrenta dificuldades para trazer aliados para sua coligação. Tem o apoio apenas do PTB, do PRB e de outros dois partidos nanicos. Um isolamento que se reflete no horário eleitoral. O petista terá 2 minutos e 33 segundos para mostrar as suas ideias nos programas de rádio e tevê. Um ponto atrás nas pesquisas, o atual prefeito Geraldo Julio (PSB) contará com praticamente o dobro do tempo. Graças a uma aliança com 20 partidos terá 4 minutos e 48 segundos de exposição. Lá nem o PC do B quer o PT.
“A falta de competitividade fez diretórios municipais petistas
desistirem de lançar candidatos na disputa eleitoral”

Sem candidatos

A falta de competitividade fez diretórios municipais petistas desistirem de lançar candidatos na disputa eleitoral. Em 2016, o PT terá o menor número de postulantes ao cargo de prefeito em cerca de vinte anos. Serão 992, cerca de 800 a menos do que há quatro anos. A queda é maior entre os candidatos a vereador pelo País. Foram de 40.960 para 21.629, uma redução de 47,19%. Uma das saídas encontradas pelo partido foi a de apoiar nomes das poucas legendas que permaneceram ao lado do PT após o afastamento da presidente Dilma Rousseff, como PDT e PC do B. No Estado da Bahia, comandado há três gestões pela sigla, o PT apostará em uma aliança com os comunistas para a prefeitura de Salvador. Mas abrirá mão da cabeça da chapa. Indicou o vice da deputada federal Alice Portugal (PC do B). As chances de vencer são remotas. Ela possui 8% dos votos. O atual prefeito, ACM Neto (DEM), deverá ganhar no primeiro turno com 68% dos votos. É mais um retrato do fim da organização partidária condenada ao ostracismo.

fonte: http://istoe.com.br/ninguem-quer-ser-pt/

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