terça-feira, 29 de julho de 2014

Opinião: Eleição e renovação


As eleições de 2014 acenam com ventos de renovação. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), 115 congressistas desistiram de disputar a reeleição. Entre eles, caciques cuja presença na Câmara e no Senado era certa legislatura após legislatura. Tão certa quanto o suceder das fases da Lua, das estações do ano, dos dias e das noites...

Além da desistência voluntária, como a de José Sarney, Pedro Simon, Inocêncio Oliveira, Epitácio Cafeteira, muitos serão barrados pela Ficha Limpa. Pela primeira vez, candidatos condenados pela Justiça serão impedidos de disputar o voto do eleitor. Trata-se de faxina necessária e inadiável. É bom. É pedagógico. 

Em primeiro lugar, porque pune quem traiu a confiança nele depositada. Em segundo, porque tem o poder de prevenção. Políticos tentados a pisar a lei por certo pensarão duas vezes antes de concretizar o objetivo. Pelo menos nesses casos, a impunidade parece cada vez mais distante. O “comigo não acontece” constitui aposta de alto risco.

 Os partidos políticos desempenham papel importante no cenário de renovação. Eles precisam ler corretamente o seu tempo. Não podem esquecer que a Lei da Ficha Limpa se deve a iniciativa da sociedade civil que, mobilizada contra os desmandos de políticos que não a representavam, conseguiu a adesão de 1,5 milhão de eleitores e derrubou uma a uma as manobras até vê-la em vigor.

Apresentar postulantes a cargos eletivos que correspondam à expectativa dos brasileiros é sinal de respeito ao cidadão que acredita na democracia. Devem-se submeter ao crivo das urnas homens e mulheres vocacionados para promover o bem comum — pessoas que têm os olhos e os sentidos nas próximas gerações, não nas próximas eleições. 

Ser honesto, no caso, é condição necessária, mas não suficiente. Impõe-se ter projetos que estejam em sintonia com as expectativas e necessidades do país e da população. Não só. Impõe-se comprometer-se com a reforma política. A eleição sem limites de deputados e senadores, além de antidemocrática por privilegiar quem tem mandato, dificulta a renovação. É importante limitar as reconduções. 

É importante, também, pôr fim à “reserva de mandato”. Deputado ou senador que aceitar cargo no Executivo deve renunciar à representação. Servir a dois senhores tem nome — falta de compromisso. Graças à melhora da renda, à crescente democratização do voto e ao acesso à informação, a sociedade está mais atenta e mais exigente. As manifestações que sacudiram o país há um ano não deixam dúvida. O Brasil caminha a passos largos da democracia representativa para a democracia de massa.

Caderno opinião do Correio Braziliense
Fonte: Correio Braziliense

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