domingo, 22 de junho de 2014

Jovens que lideram as manifestações em Brasília enfrentaram resistência dos pais

Saiba quem são os líderes dos movimentos no DF

Comitê Popular da Copa realiza protesto na Rodoviária do Plano PilotoDivulgação/ Sabrina Fernandes
Na semana passada, a atitude de um pai diante da participação do filho em um protesto, em São Paulo, chamou a atenção. O funcionário público Osvaldo Ruz retirou o jovem Renan, de 16 anos, de uma manifestação contra a Copa do Mundo. A principal preocupação do pai era com a segurança do filho.   
Manifestantes de Brasília, que hoje lideram os protestos contra a realização da Copa na capital federal, também enfrentaram resistência em casa quando optaram por uma vida militante.  
Com a mesma idade de Renan, entre 15 e 16 anos, o estudante Raphael Sebba decidiu que faria parte de movimentos sociais e, consequentemente, de diversos protestos.
Ele morou em várias cidades do Brasil, conheceu muitas realidades e hoje, estudante da UnB, divide uma república com outros universitários no Lago Norte. Aos 23 anos, afirma que enfrentou certa oposição dos pais quando começou a participar dos atos. A preocupação dos pais, claro, foi sempre com a integridade física do rapaz. Os pais de Raphael nunca chegaram a tirá-lo de um protesto, mas sempre recomendavam cuidado, fizeram leve oposição e depois aceitaram sua presença em manifestações.

— Não é uma explosão momentânea, é escolha de vida e eles entenderam. 
Para os pais de Thiago Ávila, de 27 anos, a experiência pode ter sido mais traumática. Em 2009, fotos estampadas em todos os jornais de Brasília mostravam um jovem debaixo de um cavalo da Polícia Militar durante um confronto entre policias e manifestantes, em um protesto no Eixo Monumental. Na época, a capital federal vivia um clima de insegurança com a possível saída do governador José Roberto Arruda, acusado de chefiar um esquema de compra de deputados, conhecido como Mensalão do DEM.
A área central de Brasília era palco de manifestações frequentes e Thiago estava em todas. Naquele momento, ele já tinha um envolvimento com causas sociais há seis anos, mas, diante da cena, não teve como enfrentar a oposição dos pais.
— Não tinha como esconder, eles estavam vendo em todos os jornais, aí sempre se preocupa com a segurança.
No início da militância, em 2003, os pais interpretavam seus protestos como rebeldia, mas depois aceitaram as escolha do filho. Hoje, em período de Copa do Mundo, ele divide a rotina entre as articulações de protestos na área central de Brasília e sua casa, no Jardim Botânico, onde se dedica aos cuidados com a mãe, que sofreu um AVC. — Nós lutamos por um mundo que caiba vários mundos, sem fome, sem exploração e com a maior dose de felicidade possível.  
Se não foi diferente com eles, a proteção materna também falou alto com Érica Ramos. Em junho do ano passado, durante as várias manifestações que culminaram com enfrentamentos entre policias e manifestantes foi que a mãe da assistente social, de 27 anos, apesar de ter participado de protestos durante a juventude, colocou para fora sua preocupação.  
— Sempre tem um receio das manifestações, ela via aquelas imagens. A gente corre risco, mas ninguém vai para uma manifestação para ser atingido, machucado, a gente também tem medo.   
Cada um com sua história, mas os três jovens têm em comum, neste momento, um descontentamento com a realização da Copa do Mundo no Brasil. Eles lideram o Comitê Popular da Copa do Mundo no Distrito federal e protagonizam as manifestações em Brasília.  Mas o que eles querem? 
"Nós não temos nada contra futebol"
No primeiro jogo da Seleção Brasileira em Brasília pela Copa do Mundo, nesta segunda-feira (23), contra Camarões, certamente o dia será de festa para os brasilienses. Dentro do Mané Garrincha, gritos e sofrimentos por cada lance ou gol perdido. Pode-se ouvir palavrões, gritos desesperados rumo ao gol ou um Hino Nacional à capela. A certeza é de que haverá barulho dentro e fora.
Nas ruas, os gritos virão dos manifestantes que, mais uma vez, vão às ruas questionar a realização da Copa do Mundo no Brasil. E porque protestam? Todos são unânimes em dizer que não têm nada contra futebol, mas acham que a realização da Copa do Mundo no Brasil retirou direitos dos brasileiros. Citam como exemplo as remoções de casas de famílias de baixa renda, que dariam lugar aos estádios.  
Em Brasília, garantem que a Novacap vendeu terrenos para custear a reforma do Estádio Mané Garrincha, que passou de R$ 1 bilhão. Segundo os jovens, isso implica em retrocesso da política habitacional para famílias de baixa renda, já que os recursos poderiam ser revertidos para a construção de casas populares.
— Nós não temos nada contra futebol, tem muita gente aqui que gosta, mas não estamos de acordo a forma como a Copa acontece, diz Thiago Ávila. 
O jovem fala em quebra de acordo.
— Os brasileiros aceitaram a Copa porque disseram que nós teríamos vários ganhos, de mobilidade urbana, de desenvolvimento e isso não aconteceu. Os manifestantes dizem que a maior promessa de legado da Copa para o Distrito Federal, a melhoria na mobilidade urbana, ficou pelo caminho.
Sentados em uma praça, eles podiam rezar uma rosário de críticas à Copa do Mundo, mas reconhecem um benefício: a possiblidade de mostrar os problemas sociais do Brasil, que ganharam visibilidade com a realização do Mundial. Para eles, o grande legado é poder ir às ruas falar de suas insatisfações.
— As coisas se resolvem na rua. 

FONTE: http://noticias.r7.com/distrito-federal/jovens-que-lideram-as-manifestacoes-em-brasilia-enfrentaram-resistencia-dos-pais-22062014

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