sábado, 22 de fevereiro de 2014

Venezuela: em uma semana, 55 agressões a jornalistas

No dia em que Nicolás Maduro expulsou profissionais da CNN, associação de imprensa revela que cobrir as manifestações no país é um risco para repórteres

Diego Braga Norte, de Caracas
Estudantes sentam na rua sobre a frase 'A censura é ditadura', durante um protesto anti-governo em Caracas - (17/02/2014)
Estudantes sentam na rua sobre a frase 'A censura é ditadura', durante um protesto anti-governo em Caracas - (17/02/2014) (Juan Barreto/AFP)
O presidente do Colégio Nacional de Jornalistas (CNP, associação dos profissionais de imprensa venezuelanos), Guia Tinedo, informou nesta sexta-feira que entre os dias 12 de fevereiro – data inicial dos protestos contra o governo de Nicolás Maduro – e 20, ao menos 55 jornalistas sofreram algum tipo de agressão na Venezuela. Em uma entrevista transmitida pelo canal Globovisión, Guia revelou que dos 71 casos registrados neste ano, a última semana responde por mais de 77%.


Guia manifestou preocupação com a crescente onda de ataques contra jornalistas e o impedimento do trabalho da imprensa. Desde o início dos protestos, jornalistas já tiveram seus equipamentos ‘confiscados’ – eufemismo para roubados, pois os profissionais não conseguem recuperá-los – e também foram agredidos por policiais e milícias bolivarianas. Entre os casos de violência registrados, a CNP divulgou um vídeo mostrando policiais agredindo um jornalista do jornal Panorama, em Maracaibo, cidade ao norte do país. Ao lado de outros jornalistas, como o secretário-geral do Sindicato Nacional de Trabalhadores de Imprensa (SNTP, na sigla em espanhol), Carlos Correa, o presidente da ONG Espaço Público, Bernardino Herrera, e outros, Guia também mostrou preocupação com a situação de censura da mídia e criticou a postura do governo contra a CNN.

Nesta sexta, em mais um ataque contra a liberdade de imprensa, o governo venezuelano, através do Ministério de Comunicação e Informação, cancelou os vistos de trabalho de quatro profissionais da rede americana CNN, a correspondente Osmary Hernández, a apresentadora Patricia Janiot e de sua produtora, e do repórter Rafael Romo. "Já basta de propaganda de guerra, eu não aceito propaganda de guerra contra a Venezuela! Se não se corrigirem, fora da Venezuela, CNN! Fora!", bradou Maduro em um discurso televisionado.
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Manifestantes contra o governo venezuelano na Praça Altamira, em Caracas
Manifestantes contra o governo venezuelano na Praça Altamira, em Caracas - Reuters
A CNN disse não ter sido notificada sobre o processo e, como se fosse necessário, rechaçou a afirmação de que a cobertura das manifestações tenha o intuito de servir como "propaganda de guerra" contra a administração. "Nós abordamos ambos os lados da tensa situação que vive a Venezuela, embora o acesso aos funcionários do governo seja muito limitado. Esperamos que o governo reconsidere sua decisão. Mas seguiremos informando sobre a Venezuela da forma justa, acertada e balanceada que nos caracteriza como uma empresa jornalística", diz um comunicado da emissora.

Protestos – Ainda que a noite em Caracas pareça calma, novos protestos são esperados para este sábado na capital e nos estados de Táchira, Carabobo, Mérida e Bolívar, redutos onde o governo bolivariano sofre mais críticas. Maduro tenta sufocar as manifestações em várias frentes. Além da repressão policial, o ministro venezuelano do Petróleo, Rafael Ramírez, sinalizou que pode suspender o suprimento de combustível em "zonas de cerco fascistas", mas sem mencionar os estados. Em Táchira, estado no extremo noroeste do país, os moradores sofreram com o corte de serviços essenciais, como eletricidade e telefonia, após grandes manifestações desta semana.

Venezuela: a herança maldita de Chávez 

Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela em fevereiro de 1999 e, ao longo de catorze anos, criou gigantescos desequilíbrios econômicos, acabou com a independência das instituições e deixou um legado problemático para seu sucessor, Nicolás Maduro. Confira:

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Criminalidade alta

A criminalidade disparou na Venezuela ao longo dos 14 anos de governo Chávez. Em 1999, quando se elegeu, o país registrava cerca de 6 000 mortes por ano, a uma taxa de 25 por 100 000 habitantes, maior que a do Iraque e semelhante à do Brasil, que já é considerada elevada. Segundo a ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV), em 2011, foram cometidos 20 000 assassinatos do país, em um índice de 67 homicídios por 100.000 habitantes. Em 2013, foram mortas na Venezuela quase 25 000 pessoas, cinco vezes mais do que em 1998, quando Hugo Chávez foi eleito. 
Apesar de rica em petróleo, a Venezuela é o país com a terceira maior taxa de homicídios do mundo, atrás de Honduras e El Salvador. Entre as razões para tanto está a baixa proporção de criminosos presos. Enquanto no Brasil a média é de 274 presos para cada 100 000 habitantes, na Venezuela o índice está em 161. De acordo com uma ONG que promove os direitos humanos na Venezuela, a Cofavic, em 96% dos casos de homicídio os responsáveis pelos crimes não são condenados. 

FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/venezuela-em-uma-semana-mais-de-50-agressoes-contra-jornalistas

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