sábado, 8 de fevereiro de 2014

Operação Tartaruga não é o único problema


Por Carla Rodrigues

Muito além da Operação Tartaruga, o problema da segurança pública no Distrito Federal não se restringe apenas a uma corporação. A Polícia Civil, responsável pela investigação de ocorrências, trabalha há 20 anos com o efetivo abaixo das necessidades da população. Hoje, 4,9 mil servidores tentam atender a demanda de 2,3 milhões de pessoas, número atual de habitantes da região. Porém, o ideal seriam, no mínimo, sete mil agentes, apontam representantes da categoria. ...

“A defasagem está em todas as delegacias, em todos os departamentos. O que aconteceu ao longo desses anos foi um verdadeiro descaso dos governos. E, agora, o resultado é esse. Demora nas perícias, demora nos atendimentos”, salienta o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol), Ciro de Freitas. Desde o final do ano passado, a instituição lançou dois editais, para agente e escrivão. A ideia é incrementar 1,2 mil policiais  ao atual quadro. 

Mesmo com o concurso, lembra Freitas, a corporação corre o risco de continuar com déficit. “Muitos policiais vão se aposentar. Então, quem entrar agora vai ocupar esses cargos. Por isso, sempre falamos da necessidade de se criarem novos cargos”, completa o presidente do Sinpol. Ele afirma ainda que “existe um pleito do sindicato que pede a contratação do excedente de 29 peritos aprovados na última concorrência”. 

Demora

E é justamente quando se trata da perícia nas ocorrências que o problema da defasagem  na corporação  se agrava. Em alguns casos, as vítimas relatam que chegam a esperar dias pela inspeção. “Arrombaram nossa casa no dia 17 de janeiro. A polícia só veio aqui no dia 25. Ficamos oito dias esperando pela perícia e até hoje nem saiu o resultado. Foi um horror, um absurdo”, conta o comerciante Domingos Sauvio Abreu, 37 anos. 

Morador na QNN 04 de Ceilândia, ele e a família tiveram TVs, roupas e até a cachorrinha de estimação levados pelos ladrões.  “O pior disso é que nós, cidadãos, confiamos no trabalho da polícia e quando a gente se depara com um problema assim é decepcionante. Ficamos oito dias com as portas arrombadas, com a casa bagunçada. Tudo para que uma perícia fosse feita”, ressalta o comerciante. 

 A justificativa para a demora, destaca, é que eles estavam com muitas ocorrências para atender na região e não estavam dando conta. 

Prejudicados

“Mas, como contribuinte, questiono: o que tenho a ver com isso?. Não tenho nada com isso. Eles deveriam dar conta do trabalho sem prejudicar ninguém. Se precisam de concurso, deve ser feito e ponto. A população não pode ficar jogada assim”, analisa o comerciante de Ceilândia. 

Quem faz o que na PCDF

Delegado

 A quem cabe comandar os policiais do distrito, ter um grande conhecimento jurídico, relacionar-se com o público, comparecer aos locais onde o crime ocorreu, acompanhar as diligências, entre outras.

Investigador

 Profissional com capacidade de observação e raciocínio para elucidar crimes. Cabe a ele coletar provas, localizar, identificar, interrogar suspeitos, cumprir mandados judiciais e efetuar prisões.

Escrivão

É o principal auxiliar do delegado e normalmente passa a maior parte do tempo na delegacia. Cabe a este profissional possuir bom domínio da língua portuguesa a fim de redigir textos, ser pontual e organizado. Fazer anotações nos livros oficiais, dar andamento a inquéritos policiais, a termos circunstanciados de ocorrência e auto de apuração de atos infracionais.

Médico legista

Realiza exames em vítimas de violência sexual, agressão corporal e acidentes de tráfego. Determina a causa da morte, etc.

Perito criminal

Este profissional é de vital importância para a polícia, pois é através dele que os indícios se tornam provas materiais, é ele que “lê” os vestígios deixados no local onde um crime aconteceu e os detalhes de uma investigação.

Perito papiloscopista

É o técnico encarregado de localizar as impressões digitais deixadas pelos criminosos para que possam ser utilizadas como prova condenatória.

Ocorrências aumentaram em 45%

A própria polícia reconhece o problema da falta de efetivo. “É uma equipe de perícia para o Distrito Federal todo. Eles não estão dando conta”, revelou um policial, enquanto aguardava a perícia no local onde um casal havia sido baleado dentro de um carro, na QNN 3, em Ceilândia. “A situação está muito difícil para a gente”, garantiu o agente da Civil. No total, foram mais de quatro horas de espera. Enquanto isso, muitos populares passavam pela área, o que poderia alterar a cena do crime. 

Para o presidente da Associação de Peritos Criminais do Distrito Federal, Bruno Telles,  a Operação Tartaruga cooperou para a demora nos atendimentos. “Tivemos aumento de 45% nas ocorrências de furtos e homicídios. Essa carga não estava prevista”, explica. Porém, ele concorda que o número de policiais civis é insuficiente se comparado ao crescimento da região.  “O efetivo de peritos está bem enxuto. E a gente tem mais 29 peritos para assumir agora, para tomar posse. Mas falta o GDF ter vontade política para nomeá-los”, provoca. 

 Procurada pela reportagem, a Secretaria de Administração Pública do Distrito Federal (Seap), responsável pela nomeação dos peritos, disse que ainda não há previsão para a posse dos cargos. Mas, “estão sendo desenvolvidas ações para que haja a viabilidade orçamentária e financeira para custear as despesas com as possíveis nomeações”, afirmou a pasta. 

Informações

Já a Secretaria de Segurança Pública, quando questionada sobre a previsão de novos concursos, déficit e vagas na corporação, sugeriu à equipe do Jornal de Brasília que procurasse a Divisão de Comunicação da Polícia Civil, que foi quem passou todos os dados solicitados. 

População sofre

Outro exemplo de demora no atendimento da Polícia Civil aconteceu no último dia 4.  Depois de ter a loja assaltada pela gangue da marcha a ré, Jamal Kamal, 36 anos, dono do estabelecimento, contou que a perícia só chegou  sete horas depois. “Atrasou tudo, nem consegui abrir a loja. É uma falta de respeito. Essa demora   é inaceitável”.

Por conta do atraso, as portas e grades do estabelecimento só foram consertadas no início da tarde do dia do assalto. “Só prejuízo. Em artigos esportivos, imagino que sejam R$ 15 mil perdidos. Aí, fora isso tudo, ainda tenho esse problema com a perícia. Foi um dia perdido, porque eu não podia arrumar as coisas   antes  da inspeção”, destacou.

Atraso

 Em dezembro   passado, em Ceilândia, o corpo do morador de rua Emerson de Souza, encontrado às 7h do dia 17, demorou mais de sete horas para ser levado pelo Instituto Médico Legal (IML). Na época, a Polícia Civil disse que o motivo da demora foi o atendimento a crimes anteriores à ligação dos populares. 

 Para a especialista em segurança pública Tânia Montoro, da UnB, 4,9 mil agentes para  a população do DF é mais do que um efetivo insuficiente. “É ridículo”, disse. De acordo com a docente, isso resulta em atraso não só nos atendimentos, mas na qualidade de vida dos servidores e da população.   “Estamos entregues a uma corja de políticos despreocupados com toda essa questão. Um exemplo disso é a própria terceirização do 190”, ressalta.

Vítima prende ladrão

Na última quarta, o JBr. contou a história do morador do Sol Nascente   Willian Santos. Ele sofreu uma tentativa de furto e ligou para a PM, mas não adiantou. Depois,   amarrou   o ladrão e o levou à 19ª DP, mas não havia delegado. Ele só conseguiu   a prisão na   15ª DP.
Fonte: Jornal de Brasília

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