quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O medo na porta de casa. Comandos trocados. Coronel pede uma trégua


Por Gabriella Furquim - Almiro Marcos - Renato Alves e Mara Puljiz

A bandeira levantada realmente é a do não cumprimento das 13 promessas. 

Ex-secretário de Segurança Pública, ex-diretor geral do Detran, ex-administrador do Paranoá, o coronel Jair Tedeschi tem atuado como mediador no movimento. 

Coronel pede uma trégua ...

Ex-secretário de Segurança Pública, ex-diretor geral do Detran, ex-administrador do Paranoá, o coronel Jair Tedeschi tem atuado como mediador no movimento. Integrante da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da PM e dos Bombeiros do DF (Assor), ele conversa com a cúpula das corporações, do GDF e com líderes das entidades dos militares. Tedeschi considera positiva a abertura de diálogo do governo com a categoria, mas cobra o cumprimento de promessas.

Como foi retomada a negociação entre militares e o GDF?
Na segunda-feira, fomos chamados pelos dois comandantes-gerais — da PM e dos bombeiros — para uma discussão de proposta. A operação tartaruga já havia terminado. Os dois comandantes-gerais são os nossos interlocutores. Não precisa de associação para nada, se os comandantes levarem ao governo as demandas das corporações.


O senhor vê uma mudança no cenário da semana passada para esta?
Com certeza. Primeiro, a operação efetivamente acabou. Mas há uma desmotivação muito grande dos integrantes da categoria por diversos fatos. A bandeira levantada realmente é a do não cumprimento das 13 promessas. 

Mas a categoria está trabalhando desmotivada?
Sim. E bem, como é a obrigação. Há um controle maior (por parte do comando), então, em consequência disso, logicamente há uma produtividade melhor. Mas a desmotivação ainda reina.

As associações falam a mesma língua?
Nem todas. Dentro do Fórum, sim. Das associações que não estão neste contexto, a maior representatividade é a da Aspra. A gente não pode tirar a força da Aspra com o João de Deus (prefeito de Água Fria e presidente da entidade) e o número de associados que tem.


O senhor acha que é o momento de os ânimos se acalmarem? 
Com certeza. Preguei isso numa carta publicada nos blogs, nos sites e nas associações. Faço um apelo ao governador: não fecha a porta. Ele já determinou aos dois comandantes-gerais que sejam os interlocutores. Então, a porta se abriu.

E o que o senhor diz sobre as tais 13 promessas?
A reestruturação está pronta desde outubro e, infelizmente, não foi divulgada. O plano de obras de reformas dos quartéis, do centro odontológico, do nosso hospital, isso está sendo feito. O governo tem que dizer que o plano de obras está tendo continuidade. Os cursos do Policial do Futuro estão sendo feitos. Agora, algumas promessas feitas em 2010 não foram nem serão cumpridas, como os reajustes, de acordo com o Fundo Constitucional e o pagamento do anuênio. Mas o governo pode e tem condições de cumprir as outras.

Protesto após assaltos a postos 

Os casos de assaltos a postos de gasolina não param de crescer no DF. Só em janeiro, 160 assaltos foram registrados, segundo dados do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviço de Combustíveis e Derivados de Petróleo (Sinpospetro). A frentista L.F.S, 26 anos, já foi uma das vítimas de assaltos. Só este ano, ela foi alvo da criminalidade oito vezes. Segundo ela, o pânico é companheiro diário no trabalho. “Eu vivo com um medo constante. Sempre em sobressalto, achando que alguém pode chegar e me render. Afinal, quando eles nos roubam, estão sempre em três ou mais. Por isso, não dá para correr”, relatou.

Por isso, está marcada para amanhã uma paralisação em todos os postos de gasolina das cidades de Santa Maria e Recanto das Emas, a partir das 6h. “Todos os frentistas vão se reunir em um ponto ainda a ser designado e vão marchar pela cidade como protesto pela falta de policiamento na cidade e por mais proteção. No momento da paralisação, não vai haver abastecimento”, afirma Carlos Alves, presidente do Sinpospetro.

O último caso ocorreu no fim da noite de terça-feira, quando três jovens foram presos, em flagrante, e dois adolescentes apreendidos por terem assaltado um posto de combustíveis na QNN 10, em Ceilândia Sul. Segundo testemunhas, um carro, modelo Voyage, estacionou, cinco suspeitos desceram do veículo e abordaram os frentistas. Um deles acionou a Polícia Militar, que deteve o bando em flagrante. 

A 28 km dali, em Santa Maria, outro posto também foi alvo de bandidos. Três homens abordaram os funcionários do local, na CL 102. A ação durou cerca de 15 minutos e acabou com dois clientes e dois frentistas rendidos. Estima-se que o bando tenha levado mais de R$ 500 em espécie. Em nota, a assessoria de comunicação do 26° Batalhão da Polícia Militar de Santa Maria afirma que atende todos os chamados quando possível. Segundo eles, o contigente na região é reduzido para fiscalizar toda a cidade.

O medo na porta de casa

Assalto e agressão a militar reformado na 213 Sul, além de outros casos de roubos a carros na mesma quadra nos últimos dias, assustam brasilienses. Eles cobram mais policiamento.

“Quando eu entrava na quadra, eu me sentia seguro, me sentia em casa. Descobri da pior forma que estava enganado.” A frase é do coronel reformado do Exército Aderbal Silva, 77 anos, ferido durante um assalto às 15h da terça-feira na Asa Sul. Morador de Brasília há 35 anos, o militar diz que nunca havia se sentido inseguro na capital do país. “Desde que cheguei aqui, sempre considerava a cidade um paraíso. Nunca tinha passado por uma situação assim, nunca imaginei que aconteceria, que chegaria até a porta da minha casa”, lamentou. A Polícia Militar não apareceu na quadra nem mesmo após o crime. O assalto ao aposentado não é o único registrado esta semana na Quadra 213 Sul. Pelo menos outros dois carros foram roubados em pontos próximos.  

“Nós estamos no centro do poder. A Asa Sul tem um dos metros quadrados mais caros do mundo, os moradores pagam enormes quantias em impostos e não veem a contrapartida dos serviços públicos. E não é só segurança que falta”, queixou-se o tenente-coronel da reserva da Aeronáutica Diógenes Soares, 52 anos, também morador da quadra. Os blocos da 213 Sul são ocupados principalmente por membros das Forças Armadas e por integrantes do corpo diplomático brasileiro. Um dos veículos roubados na última semana era da frota do Itamaraty, usado por oficial de chancelaria.

Esposa de Aderbal, Vânia Ferraz, 73 anos, conta que viveu momentos de desespero ao ver o marido ensanguentado. “É muito difícil acreditar. Eu entrei em pânico, não soube como reagir”, lembrou. O militar conta que saiu de casa depois do almoço para resolver um problema em uma loja operadora de celular. “Fui aqui perto. Voltei por volta das 15h. Vim dirigindo despreocupado e não notei que estava sendo seguido por um Uno. Quando estacionei o carro, no bloco ao lado do meu, fui abordado por dois rapazes que pareciam muito jovens, adolescentes. Um deles ficou no veículo. Mas a primeira coisa que eu vi foi a arma apontada para minha cabeça”, relatou Aderbal. Ao perceber que era um assalto, o aposentado hesitou em entregar a chave e foi puxado com violência. Ao cair no asfaltou, machucou o braço. 

Falta polícia
A Polícia Militar não apareceu no local. “Um vizinho viu absolutamente tudo. Ele ligou para o 190 logo depois do crime. Mas, de acordo com ele, perguntaram qual a placa do veículo e ele não sabia. A pessoa respondeu que não poderia fazer nada sem a informação e desligou”, contou Aderbal. A esposa, Vânia, diz que também entrou em contato com a polícia. “Não consegui falar com ninguém. Fiquei em estado de choque”, lembrou. Após ser atendido por um médico e ter o braço suturado, Aderbal foi à 1ª Delegacia de Polícia registrar o caso. “São duas coisas que não consigo entender: a quantidade de crimes cometidos por adolescentes e essa operação tartaruga, que usa a segurança população como moeda”, completou.

Comandos trocados - Por Almiro Marcos

A operação tartaruga desencadeada no ano passado e intensificada desde o início deste ano por policiais e bombeiros militares terá mais consequências esta semana. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) decidiu trocar os comandos de vários batalhões regionais. A relação completa de oficiais que perderão os cargos de chefia só sairá hoje. Porém, segundo apuração do Correio, a alteração é certa em pelo menos cinco deles: no 4º Batalhão (Guará); no 5º (Lago Sul); no 7º (Cruzeiro, Sudoeste e Octogonal); no 11º (Samambaia); e no 14º (Planaltina).

A análise da cúpula da corporação e da segurança pública é que, apesar de não terem relação direta com o movimento desencadeado pela tropa, os comandantes atuaram de forma moderada diante do fato, mesmo sabendo do que vinha acontecendo. A intenção do comandante da PMDF, coronel Anderson Moura, é fazer com que as determinações do comando-geral cheguem diretamente e com mais facilidade à tropa. 

Dança
“O novo comandante-geral assumiu em dezembro passado e ainda não tinha feito uma mudança generalizada. Agora, com as medidas que irá adotar, ele vai fazer uma oxigenação, dar uma injeção de ânimo na tropa”, explicou uma fonte da cúpula da PM.

A corporação tem hoje 28 batalhões regionais espalhados pelas cidades do DF. A cúpula da PM ficou reunida até tarde da noite ontem, definindo os pontos nos quais as trocas seriam essenciais. O grupo de militares mais próximos do comandante, aliás, participou de vários encontros ao longo da semana. Nessas reuniões, foram discutidas alternativas para tentar superar a crise atual.


Negociações abertas para encerrar crise

Governo e líderes de movimento de policiais e bombeiros militares retomam o diálogo. Associações ligadas às categorias divergem sobre a continuidade da operação tartaruga, considerada ilegal pela Justiça desde sexta-feira.

Por - Renato Alves e Mara Alves

Liderança reconhece que falta de união atrapalha em negociações com o governo.

O Governo do Distrito Federal reabriu o canal de negociações com associações representativas dos policiais e bombeiros militares para tentar encerrar a crise na segurança pública. O diálogo tem sido realizado por meio do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Anderson Carlos de Castro, que se reporta diretamente à equipe de planejamento do Executivo e ao governador Agnelo Queiroz (PT).

O entendimento do Executivo é de que nos últimos dias as duas categorias voltaram ao trabalho, com algumas exceções envolvendo policiais incitados pelo jogo político. “Retomamos um estudo para que possamos apresentar uma possibilidade concreta para corrigir distorções do passado na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros e resgatar a importância das instituições”, disse Agnelo ao Correio. Além de conversar com líderes do movimento de reivindicação da PM e dos Bombeiros, integrantes do governo do DF precisam do aval da equipe econômica da presidente Dilma Rousseff. Qualquer aumento salarial na área de segurança pública deve ser autorizado por lei aprovada no Congresso Nacional. O diálogo também é feito na esfera federal.

Nos diálogos com os líderes dos movimentos, o comandante-geral da PM tem elencado benefícios já concedidos para a classe, como reajuste de 15,8% em três anos, aumento do auxílio-alimentação, ampliação do valor pago e do número de horas-extras, além de 16 mil promoções, sendo 14 mil de praças e duas mil de oficiais. “Já fizemos muito pela Polícia Militar. Entregamos 1.250 viaturas, reformamos quartéis e investimos em equipamentos e tecnologia, além de outros importantes benefícios”, enumerou Agnelo. “Quando assumi, a folha de pagamentos da PM custava R$ 1,5 bilhão. Hoje, chegamos a R$ 2,18 bilhões. Temos feito muito pela nossa polícia, por mais que a luta política tente negar”, acrescentou o governador.

Divergências
Integrantes do governo acreditam que uma solução para o impasse está próxima de ser encontrada. Mas ainda há divergências na base. As 14 associações representativas dos policiais e bombeiros militares do Distrito Federal estão divididas sobre os rumos do movimento. A maior delas, a Associação dos Praças (Aspra), incita a radicalização, e outras desautorizam a entidade de se posicionar em nome da categoria. Entre as reivindicações, estão a isonomia na Segurança Pública, a reestruturação da carreira e a elaboração de um código de conduta sem prisões disciplinares.

Enquanto as lideranças debatem a posição da categoria, policiais têm recorrido a diversas estratégias para driblar a determinação judicial da última sexta-feira, que mandou suspender a operação tartaruga. Alguns militares trocam e-mails a fim de adotarem medidas do que classificam como “boicote”. Entre elas, estão erros intencionais nas multas a motoristas. Isso obrigar o Detran a anular a penalidade quando ela chegar ao órgão. Dessa forma, deixam o infrator impune e o governo, sem o dinheiro da infração.

Os discursos diferentes entre as associações têm provocado reações diversas nas redes sociais e em blogs administrados por militares. Quem mais incomoda parte da categoria é o sargento Manoel Sansão, vice-presidente da Aspra, entidade com 8 mil associados. Nos últimos dias, fez piada da decisão judicial suspendendo a operação tartaruga e da abertura de investigação do Ministério Público e do Comando-geral da PM contra os líderes do movimento.

Depois, trocou o nome da operação tartaruga para operação-padrão e ameaçou as autoridades. “Não vai escapar ninguém, político nem criminoso”, avisou ele na última segunda-feira. No dia seguinte, Sansão voltou atrás. “Agora, entramos na operação lesma”, declarou. Ontem, ele disse que os policiais aderiram à operação legalidade. “Acatamos a decisão judicial, mas vamos andar na velocidade da via.”

Nota
O Fórum das Associações Representativas dos PMs e BMs do DF — que integra nove entidades — divulgou ontem nota oficial desautorizando a Aspra e Sansão a tecerem comentários em nome de todos os PMs e bombeiros do DF. Porém, na mesma nota, o Fórum desafiou as autoridades. “Essa operação não será interrompida por meio de um comandante, autoridade judicial ou do Ministério Público. Qualquer mudança virá estritamente de sua base”, ressalta o texto do documento.

Coordenador do Fórum, o coronel Mauro Manoel Brambilla reconheceu que a falta de união atrapalha as negociações. “Temos o Fórum, que é a turma do diálogo, e temos a turma do Sansão. Os objetivos são os mesmos, mas os meios são diferentes. Não concordamos com a radicalização e também não fazemos política. Quando a política entra pela porta da frente, a disciplina e a hierarquia fogem pela porta dos fundos”, declarou.
Fonte: Jornal Correio Braziliense

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.