domingo, 29 de setembro de 2013

Comando da Rede defende que Marina abandone sucessão se partido não sair

Integrantes da Executiva provisória afirmam que, após pregar a criação de uma sigla com compromisso programático, ex-senadora seria muito cobrada caso migrasse para outra legenda

 
Integrantes da Executiva Nacional provisória da Rede Sustentabilidade defendem que Marina Silva desista da candidatura à Presidência caso o partido não consiga o registro no Tribunal Superior Eleitoral. Migrar para uma legenda já existente, avaliam, confrontaria todos os ideais defendidos pelo grupo até agora.

 
Marina Silva diz não ter 'plano B' caso a Rede não seja oficializada - Ed Ferreira/Estadão

Ed Ferreira/Estadão
 
Marina Silva diz não ter 'plano B' caso a Rede não seja oficializada

"O nosso sonho é ter um espaço democrático, transparente e ético. Infelizmente, eu não vejo esses ingredientes juntos em nenhuma outra legenda", diz Jefferson Moura, vereador do Rio pelo PSOL que integra a comissão nacional da sigla. "Se a Rede não sair, Marina deve ser candidata à Presidência em 2018."
 
O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), outro integrante do grupo, argumenta que, depois de pregar a criação de um partido com compromisso programático, Marina seria muito cobrada caso decidisse ir para outra sigla somente para disputar as eleições. "Ela passaria a campanha toda tendo que se explicar. Ficaria muito vulnerável."
 
Até quem já se disse favorável à ideia mudou o discurso, diante das diversas declarações de Marina de que não trabalha com um "plano B". "No início achava que ela deveria disputar, mesmo que fosse por outro partido. Hoje, ela vai ter que fazer o que o coração dela pedir", diz Domingos Dutra (PT-MA), também integrante da Executiva.
 
O TSE deve julgar o pedido de registro de criação da Rede entre quarta e quinta-feira. O prazo para criação de novos partidos a tempo de disputar a eleição de 2014 é sábado, data limite para quem deseja se candidatar se filiar a uma legenda.
 
A expectativa em torno dessa decisão não seria tão grande se o grupo da ex-senadora tivesse conseguido cumprir todos os requisitos exigidos pela legislação. Até agora, validaram nos cartórios 470 mil assinaturas - o total exigido por lei é de 492 mil.
 
Para alcançar o número, os advogados da Rede, liderados pelo ex-ministro do TSE Torquato Jardim, pediram que o tribunal considerasse válidas 95 mil fichas de apoio rejeitadas sem justificativa. Essa é a última cartada jurídica do grupo. Se o recurso for aceito, será uma decisão inédita da corte.
 
Durante todo o processo, a ex-senadora criticou publicamente a Justiça Eleitoral. Primeiro, reclamou que os cartórios não cumpriam o prazo legal de 15 dias para conferir as assinaturas enviadas. Depois, chamou atenção para o índice de rejeição das fichas de apoio, considerado alto pelos integrantes do movimento da criação da sigla.
 
Nesta reta final, aliados voltam a jogar no colo no TSE o ônus de negar o registro da Rede. Argumentam que impedir a segunda colocada nas pesquisas eleitorais de concorrer à Presidência seria "antidemocrático".
 
"O establishment jurídico terá de assumir a responsabilidade de ter subtraído a representatividade", afirma Sirkis.
 
Futuro. Apesar das dificuldades encontradas por Marina, cientistas políticos avaliam que adiar a candidatura para 2018 seria uma escolha arriscada. "Política é timing. Não dá para garantir que Marina terá as mesmas condições em 2018", diz Carlos Melo, professor do Insper.
 
Se a ex-senadora optar por ficar de fora do pleito, terá de trabalhar para manter seu nome em evidência e recorrer a campanhas nacionais, a exemplo das Caravanas da Cidadania organizadas pelo PT na década de 1990, para promover o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação é do professor da UFMG Bruno Reis, que considera a alternativa difícil para alguém sem plataforma partidária consolidada. "Ficar de fora em 2014 é um revés irrecuperável", afirma.
 
Armadilha. Diante do risco de ver seu projeto perder fôlego em 2018, os especialistas acreditam que traria menos prejuízo a Marina migrar para outro partido, ainda que para isso precise dar explicações ao seu eleitorado. Mesmo assim, haveria prejuízos. "Como se apresentou como diferente, agora se cobra mais. Ela ajudou a armar essa armadilha para ela", diz Reis.
 
Na avaliação de Ricardo Caldas, professor da UNB, restaria à ex-senadora ir para partidos nanicos, como o PEN, já que é pouco provável voltar para o PV ou migrar para o PPS, que ainda não desistiu de esperar pelo ex-governador José Serra (PSDB). "Não seria algo que acabaria com a carreira dela", diz.
 
Pesquisa Ibope divulgada na quinta-feira mostra Marina com 16% da preferência do eleitorado - seis pontos porcentuais a menos do que em julho, um mês após a série de manifestações realizadas pelo País.
 
Isadora Peron e Lilian Venturini - O Estado de S.Paulo
 

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