quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Sem educação, imprudência prevalece


A ausência de campanhas educativas e de fiscalização nas ruas é refletida nos altos índices de mortes no trânsito. É o que indicam especialistas na área. De janeiro a julho, o Distrito Federalregistrou 170 acidentes fatais, uma média de 24   por mês. E mais uma vez, o Eixão é cenário recorrente de tragédias. Este ano, apenas até junho, dez pessoas já morreram na rodovia. O número é o maior desde 2007, quando foram 14.  Em todo o ano de 2012,   foram sete. Os dados são do Departamento de Trânsito (Detran). 

Na contramão dos indicadores, contudo, nos anos de 2011 e 2012, deixaram de ser gastos R$ 54 milhões em campanhas do Detran. Esse balanço  motivou o Ministério Público a cobrar que sejam feitos investimentos em educação. O MP deu prazo de 60 dias ao governo Agnelo para promover estudos, pesquisas e levantamento de dados para produzir ações.

VIAS PERIGOSAS

Outras rodovias   também estão no topo da lista de óbitos no trânsito, entre elas a BR-020, que corta Sobradinho, na qual 14 pessoas já morreram este ano. A 070 e a DF-001 (EPTC), cujo principal trecho corta Taguatinga, somam 17 mortes. Atropelamentos e colisões são os principais responsáveis pelos índices, representando 125 das ocorrências apontadas, entre 170 óbitos. Ou seja, 73% do total. “E as duas causas, quase sempre, são fruto da imprudência de pedestres e motoristas”, avalia David Duarte, especialista em trânsito da Universidade de Brasília (UnB). 

Para o professor, o comportamento da população no trânsito é “irresponsável”. Porém, a ausência de campanhas de educação efetivas também coopera para as mortes. “O brasileiro não sabe dirigir com consciência. Isso, aliado à falta de projetos e propagandas boas que incitem a gentileza e a prudência no tráfego, acaba, mesmo, no aumento o número de acidentes e óbitos”, destaca. 

Segundo o Detran, a soma de R$ 54 milhões não considerou outros custos. A campanha   deste ano será feita ao custo de R$ 17 milhões. (leia mais na Versão Oficial).

Fiscalização diminuiu, diz especialista

No Eixão, por exemplo, segundo o especialista em trânsito Paulo Cezar Marques,   da UnB, a fiscalização vem diminuindo nos últimos anos. “Sei disso porque passo por ali de manhã quase todos os dias. Notei, de um tempo para cá, que a vigilância de tráfego está caindo. Isso, claro, pode cooperar para o aumento de mortes, tanto por atropelamento quanto por excesso de velocidade”, adverte.

 A maioria das vítimas mortas este ano nos acidentes registrados pelo Detran são pedestres: 61 pessoas. Atrás, ficam os motociclistas, com 41 registros e, depois, os condutores, com 39. 

“Como o Código de Trânsito não define a porcentagem que deve ir para educação no trânsito, fica a cargo do órgão transferir quanto acha necessário para a área. Porém, sabemos que aqui no DF até agentes estão sendo pagos com esse dinheiro arrecadado em multas”, expõe David Duarte. 
  
Pedestres também se sentem inseguros
No Eixão, onde boa parte das mortes foi causada por atropelamentos, pedestres desistem de usar as passagens subterrâneas porque elas não têm iluminação, dando a sensação de insegurança. Por isso, muitos optam por se arriscarem na via, cuja velocidade máxima permitida é de 80km/h. No local, há 31 medidores de velocidade.
Segundo o especialista em trânsito Paulo Cezar Marques, essa velocidade é outro motivo para os altos números de morte no local. “O ideal seria 60km/h.  Há tempos, a rodovia ficou conhecida como ‘Eixão da morte’. Ou seja, não é novidade que há perigo ali. E os pedestres, claro, ficam de mãos atadas, porque nem em cima nem embaixo há segurança”, constata. 
  
Vigilância
Marques acredita que outra solução para a via é a vigilância constante de agentes. “Isso serve, principalmente, para manter os motoristas em estado de alerta. Além disso, causar constrangimento para os eventuais imprudentes que teimam em falar ao telefone, andar acima da velocidade etc. Quanto aos pedestres, o ideal é fazer com que eles se sintam seguros nas passagens subterrâneas”, aconselha. 
 
Há alguns anos, o DF chegou a ser referência em educação no trânsito, principalmente no quesito faixa de pedestre. O que já não é mais respeitado. “Já foi melhor, né? Não consigo mais atravessar a rua com facilidade. Espero para ter certeza de que os carros vão realmente parar”, desabafa a diarista Jeanette Machado, 53 anos. Ela relata que o dia a dia como pedestre está se tornando cada vez mais difícil. “Tem ônibus que invade até calçada, parada de ônibus”, conclui. 
  
Mais um para a triste estatística 
Um motociclista morreu ontem depois de ser atingido no pescoço por um fio de telefonia de um poste. O acidente ocorreu próximo à QNO 13, no Setor O, em Ceilândia. De acordo com a Polícia Militar, um caminhão que transportava um trator na caçamba passou pela via e   bateu num poste, os fios se soltaram e atingiram o motociclista que vinha atrás. Ele morreu na hora. A 24ª DP (Setor O) investiga o acidente. Familiares e amigos fizeram o reconhecimento do corpo ainda no local. O motorista do caminhão não fugiu do local do acidente e foi o primeiro a prestar depoimento. Algumas testemunhas também foram ouvidas.
 
 
Opinião é unânime: falta consciência
Os motoristas reclamam da pressa de outros e da falta de iluminação próximo às placas de sinalização. “Tem faixa de pedestre que você quase não vê mais a marca no chão, tem placa escondida por árvore”, diz Maura Lins, 60 anos. A aposentada observa, inclusive, a ausência de faixas onde julga necessário, como no final do Eixão, próximo ao Setor Hospitalar Norte. “Tem um fluxo de gente muito grande ali. Todos ficam em risco”, diz. 
 
Apesar de as opiniões serem adversas, motoristas e pedestres concordam em um ponto: falta educação no trânsito. E não se trata apenas de campanhas, mas também de consciência. “Intuitivamente, todo mundo conhece a sinalização de trânsito. Porém, muitas pessoas não respeitam simplesmente porque não querem. É uma coisa que vai além do esforço do Detran”, acredita o aposentado Iodovaldo Silva, 71 anos, que usa uma motocicleta como transporte. “A própria punição para quem mata alguém no trânsito é leve. Deveria ser crime doloso e não culposo. Se o cara sabe que beber e dirigir é um risco, ele assume a culpa”, completa. 
  
Intransigência
Para a procuradora federal Irene Carvalho, 53, contudo, o machismo e a intransigência também andam lado a lado com os acidentes. “Batidas com morte, normalmente, envolvem homens, porque ainda existe aquela ideia de mostrar a virilidade na direção, o que é uma coisa ridícula, ultrapassada”, avalia. Porém, provoca: “Faltam campanhas também, e penalidades menos brandas. O trânsito está um caos e, se continuar assim, vai piorar”. (Colaborou Júlia Carneiro)
 
Versão Oficial 
 “Se você não utiliza esse dinheiro em um ano, ele passa para o próximo e deverá ser gasto com engenharia, fiscalização ou campanhas educativas”. É o que diz o diretor de educação de trânsito do Detran, Marcelo Granja. Segundo ele,  o processo licitatório para a contratação da empresa de publicidade está nas últimas etapas e deve ser concluído no   mês que vem. “Nós temos  o cronograma do plano de comunicação pronto”, garante.
 

Carla Rodrigues

carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br
Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br

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