domingo, 25 de agosto de 2013

Para sair do isolamento

Empresários reclamam da falta de interlocução e da ausência de lideranças expressivas nos ministérios, enquanto o governo diz que discorda de suas propostas. Relação nunca esteve tão estremecida, mas Dilma conta com ajuda de Lula para azeitar o diálogo

Conhecido por sua capacidade de dialogar com trabalhadores em portas de fábrica e cidadãos do País inteiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tem dedicado seu reconhecido talento para o diálogo para auxiliar a presidenta Dilma Rousseff em conversas com empresários. Apenas na semana passada, Lula manteve quatro encontros com donos de empresas de porte. Ouviu críticas à falta de um bom canal de comunicação com o Planalto e os ministros. Também escutou queixas de setores específicos da economia, que se mostram inconformados por levarem sugestões e propostas concretas para Brasília e aguardarem meses para obter uma resposta que demora demais para chegar – e muitas vezes nunca chega. Conforme relato de dois empresários que participaram de dois encontros diferentes, Lula faz o possível para ouvir e repassar reclamações que possam ser úteis para o governo.
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BUSCANDO SAÍDAS
A falta de diálogo do governo Dilma com empresários ajuda
a explicar dificuldades do Planalto no Congresso
Com essa nova face de sua militância, Lula vem acrescentar-se a outros interlocutores que procuram azeitar a conversa entre o Planalto e os cérebros que comandam o PIB. Uma dessas personalidades é o vice-presidente Michel Temer. Para Temer, a falta de diálogo do governo com empresários ajuda a explicar boa parte das dificuldades do Planalto em enfrentar votações importantes no Congresso. Conforme disse a um ministro na semanapassada, Temer acredita que, sem bons interlocutores no governo, os empresários passaram a mobilizar seus aliados para agirem diretamente sobre os parlamentares, em movimentos que deixam o governo à margem de negociações decisivas, o que pode levar a derrotas irreversíveis. De fato, os empresários estão queixosos de interlocução e da falta de lideranças expressivas na Esplanada dos Ministérios que possam canalizar suas insatisfações e seus pedidos. Reclamam também que boa parte dos atuais ministros já está com a cabeça nas eleições do ano que vem, esquecendo-se da gestão das respectivas pastas. Além disso, o atual cenário é bem diferente do que vinha sendo desenhado ainda no início do ano, quando as perspectivas de crescimento da economia pareciam mais risonhas e, antes dos protestos de junho, a visão de uma reeleição sem muitos atropelos parecia ao alcance da mão. Naquela época a presidenta fez várias tentativas de aproximação aos empresários. A ideia, então, era manter encontros frequentes e ouvir as pautas de reivindicações com boa vontade. Mas, com o passar do tempo, a presidenta transferiu a conversa para a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e para Guido Mantega, da Fazenda. Embora sejam pessoas de confiança da presidenta, nem Guido nem Gleisi têm autoridade para tomar decisões relevantes sem passar por novas consultas com Dilma, num processo que gera novos e maiores desgastes.
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O INTERLOCUTOR
Apenas na semana passada, Lula manteve quatro encontros com donos de
empresas de porte. O ex-presidente tem feito a ponte do empresariado com o governo
Para complicar, de fato o atual cenário político-eleitoral também não ajuda. Quando faltam 13 meses para as eleições de 2014, um número cada vez maior de ministros já procura espaço, em agendas sempre apertadas, para cuidar de seu futuro no ano que vem, quando irão correr para as urnas em busca de um mandato eleitoral. O próprio governo calcula que pelo menos 11 ministros cultivam essa dupla militância, num comportamento dispersivo que dificulta, em muitos casos, a oportunidade para um diálogo focado e produtivo. Para evitar desacertos e atropelos quando a campanha já estiver em andamento, Dilma quer fazer a dança de cadeiras – que pode envolver a metade de seu imenso ministério – logo no início do ano que vem, o que ajuda a elevar o grau de nervosismo de quem quer sair, daqueles que querem entrar e dos que ainda não sabem o que vão fazer. “Nas reuniões tudo fica para depois. Tudo depende de um fator externo e impede respostas rápidas. Enquanto isso, navegamos nas incertezas”, resume um industrial ouvido por ISTOÉ na condição de ter seu nome preservado. Até o Planalto reconhece que há pontos de insatisfação que podem ser atribuídos às dificuldades do governo de ouvir, falar e encaminhar as propostas que lhe chegam.
Mas também é verdade que há propostas que não andam porque o governo discorda delas e não quer que saiam do lugar. O caso mais recente envolve o fim da multa de 10% sobre o FGTS. Unanimidade entre os empresários que clamam por uma nova medida que possa reduzir custos, ela é uma unanimidade contra no governo e entre seus eleitores do mundo sindical. Convencido de que a definição de R$ 72 bilhões em desonerações até o final representa um bom estímulo ao setor privado, num ato de generosidade fiscal jamais exibido por seus antecessores, o governo não quer criar um novo desfalque, estimado em R$ 10 bilhões, com o fim da multa. Além do ganho econômico para suas contas, há um motivo político para isso. Ciente de que o mundo e o país se encontram sob um regime de turbulência, o Planalto está convencido de que uma medida que irá baratear as demissões pode servir de estímulo ao desemprego e nem pensa nisso em véspera de campanha presidencial.
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SEM FORÇA
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, não tem autoridade
para tomar decisões relevantes sem consultar Dilma
Encaradas como uma fonte segura de estímulos para os meses finais deste ano, as concessões também são um obstáculo na relação do Planalto com o empresariado. Sob a batuta do secretário do Tesouro, Arno Augustín, o governo adotou uma linha de controle das taxas de retorno das empresas privadas, especialmente de aeroportos e rodovias. O controle irritou investidores. No início deste ano, Lula foi procurado por representantes de grandes empresas que pediam a flexibilização desses acordos. O pleito chegou ao governo, que já concordou em ampliar as taxas de retorno, como um recurso para estimular os investimentos. Até agora, contudo, os novos limites não foram definidos.  
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Izabelle Torres



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